“A paternidade explicada por um homem que não queria ser pai”

17 Outubro, 2015

(Última atualização em 16 Março, 2020)


Provavelmente já todos nós numa altura das nossas vidas pensamos que não queríamos ser pais ou que não iríamos ter essa capacidade, por medo ou por perdermos a liberdade. Mas a verdade é que depois para uma grande parte das pessoas tudo muda.
Hoje trago-vos uma história real que foi publicada no EXPRESSO no dia 15/10/2015, “A paternidade contada por um homem que não queria ser pai”, vejam a notícia mais abaixo.

recém-nascido de boca bem aberta e com a pele vermelha de tanto gritar. Porquê tanto choro? Para Phillip Toledano esta era uma eterna incógnita, que o deixava à beira da loucura quando a filha nasceu. Momentos de um misto de desespero com impotência, que o faziam sentir que nunca iria compreender aquele pequeno ser que trouxera ao mundo. Por brincadeira, decidiu imprimir essa imagem em pratos e, cada vez que alguém lhe perguntava como era a filha, apresentava-a dessa forma. A mulher não gostava, mas ele achava um piadão. É por isso que fez precisamente dessa fotografia a capa do seu site e livro “The Reluctant Father”, onde partilha 18 meses do lado menos romântico do tal milagre da vida.

“Quando vejo as fotografias antigas começo a perceber a minha metamorfose lenta e inevitável: de observador imparcial a participante entusiasta. De fotógrafo a pai”. Esta é a descrição simples deste fotógrafo inglês, a viver em Nova Iorque, quando olha para o primeiro ano e meio de vida da sua filha. Estamos habituados a ler blogues de mulheres que partilham as suas experiências de maternidade, mas é raro encontrarmos um homem que esteja disposto a revelar ao mundo as suas emoções mais secretas relacionadas com a chegada de um filho. Phillip fê-lo durante 18 meses, de forma nua e crua, por vezes altamente irónica e deprimida, mas também afetuosa e comovente.


CRIANÇAS = MATERIAL RADIOATIVO
Romatismos à parte, o fotógrafo inglês deixa claro desde o primeiro momento que ser pai nunca foi a sua vontade. Aliás, achava os filhos dos amigos um género de “material radioativo” com o qual nem sequer queria lidar. “Mas depois arranjamos uma namorada e começamos a ouvir a pergunta: ‘Então, quando é que te casas?´. Casamos. Depois de estarmos casados começam a perguntar: ‘Então, quando é que tens um filho?’. E acabamos por ter”.

Tinha 40 anos quando deu por si a ser pai de um desses pequenos “materiais raioativos”. “A verdade é que não senti uma ligação imeadiata. Quando dizia às pessoas que não estava a gostar de ser pai olhavam para mim como se fosse maluco. Há uma pressão enorme para dizermos frases como: ‘estou maravilhado com o milagre da vida, podia ficar a olhar para ela o dia todo’”. Não era o caso de Phillip. À falta de capacidade para conseguir lidar melhor com a chegada da filha, refugiou-se atrás da sua máquina fotográfica e decidiu construir uma relação através das imagens.


NO DIA EM QUE A FILHA LHE SORRIU, ELE CHOROU
As primeiras exprimem o impacto duro com a nova realidade familiar, com direito a gritos e choro imparáveis, noites sem dormir, o afastamento da mulher, a convivência difícil com aquilo a que ele chamava de “extraterrestre” e “com quem não tinha nada em comum”. São, regra geral, imagens que primam pelo exagero e pela distorção, pouco dadas às fotografias deliciosas de bebés que estamos habituados a ver os pais babados a tirarem.

O lado de pai babado chegou mais tarde, quando deixou de se sentir “um incapaz” (antes tinha medo de ficar sozinho com a criança e de não saber o que fazer). “Tinham-me dita que a minha vida ia mudar quando a Loulou começasse a sorrir, e tinham razão. O humor é a minha forma de me ligar ao mundo, é a minha linguagem”, conta Philip na legenda de uma foto da filha a sorrir, com duas esponjas de banho penduradas nas orelhas. “Quando a Loulou começou a falar ‘essa linguagem’ comigo foi extraordinário. Da primeira vez que lhe sorri e ela me sorriu de volta, chorei.”

Com a auto-segurança reforçada pela linguagem dos sorrisos, Phillip deixou-se deleitar pelo avassalador amor incondicional e as fotos começaram a ser mais leves, divertidas, afetuosas. Loulou deixou de ser o tal “exraterrestre”, para passar a ser o grande amor daquele pai.

As legendas são longas, escritas na primeira pessoa e um grau de honestidade que chega a ser incómodo quando o objeto de crítica é um bebé. Pelo caminho percebemos que a morte recente do pai de Phillip (quatro meses antes) influenciou a sua capacidade emocional e que o momento de ligação à filha o fez voltar ao seu passado. Ao amor incondicional do pai, que fotografou durante os seus últimos três meses de vida no projeto “Days With My Father”. E tal como nós, leitores, vamos suavizando a nossa indignação pela forma desligada com que fala da filha, também Phillip espera que um dia a filha o consiga compreender e aceitar os primeiros meses da sua vida em conjunto. Hoje não tem dúvidas quanto à ligação que os une para sempre: “Quando temos uma criança ela torrna-se o nosso passado, presente e future”, conclui o pai, que um dia foi relutante.

Aqui fica o site do EXPRESSO – http://expresso.sapo.pt/blogues/bloguet_lifestyle/Avidadesaltosaltos/2015-10-15-A-paternidade-contada-por-um-homem-que-nao-queria-ser-pai